quarta-feira, 9 de maio de 2012

CANGAÇO EM DEBATE NA CELEBRAÇÃO DAS CULTURAS DOS SERTÕES



O cangaço foi tema de um debate concorrido e caloroso, com questões sobre as intenções, táticas e estratégias dos cangaceiros. Na última segunda-feira (7), dia de abertura do I Encontro de Estudos das Culturas dos Sertões, evento integrante da Celebração das Culturas dos Sertões, em Feira de Santana, a sessão de convidados teve como tema “Fatos e Casos do Cangaço”. “Ainda há muita pesquisa a ser feita sobre a história e culturas dos sertões, momentos de discussões como essa provam isto”, disse um dos coordenadores do Encontro, o historiador e pesquisador da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), Roberto Dantas, que destacou ainda a qualidade dos trabalhos apresentados e a paixão com que os temas foram debatidos.

A mesa de abertura do Encontro foi composta pelos pesquisadores Bráulio Tavares e Alexei Bueno e contou com a participação do secretário de Cultura do Estado da Bahia, Albino Rubim. Juntos, eles deram início ao primeiro encontro reunindo pesquisadores e estudantes com temática específica sobre o sertão, que acontece até amanhã, terça-feira, dividido entre sessão de convidados e sessão de comunicações, esta, coordenada por Alberto Freire, que recebeu 42 trabalhos, dentro os quais 15 foram selecionados.

Ainda nesse dia aconteceram a Oficina de Xilogravura, ministrada por José Luis Natividade, a reapresentação do espetáculo teatral “Eh Boi”, a exibição do longa “O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro”, de Glauber Rocha, e o espetáculo de fantoches “Universo Sertanejo”.

Neta de Lampião

Vera Ferreira, pesquisadora e neta de Lampião e Maria Bonita, uma das convidadas do evento, apontou a dificuldade de pesquisar o cangaço por causa da inconfiabilidade com as fontes. “Eu tenho jornais de cinco estados diferentes, na mesma data, relatando que meu avô se encontrava lá. Essas desinformações acabam sendo armadilhas para os pesquisadores. Eu não quero mudar a história de Lampião, o que quero é que ela seja contada com seriedade”, disse Vera.

Para a pesquisadora Luitgarde Barros, o cangaço serviu a classe dominante do país. “A ciência, a arte e a história são criações ideológicas. Com o cangaço não foi diferente. O cangaço foi o neoliberalismo possível da sociedade agrária brasileira da época”, disse a pesquisadora. A mesa cedeu espaço ao público, que questionou os pontos de vista e participou ativamente do debate.
Sertão musical e contemporâneo

A noite deste segundo dia de evento foi dedicada à música. Mas não à música tradicional. Os artistas e grupos que se apresentaram no Centro de Cultura Amélio Amorim misturaram referências, cordel com pop, rock com ciranda, maracatu com clássico, juntando acordeons com violoncelo, viola com alfaia em belíssimas performances.

Maviael Melo abriu a noite com uma apresentação recheada de poesia e causos do sertão, com referências ao cordel, mostrando as canções que já lhe renderam premiações em festivais. Já o grupo Sertanília, que praticamente lotou o cine-teatro, fez um espetáculo empolgante, com uma música essencialmente brasileira, baseada na mistura, com canções que trouxeram como referência obras como “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosas. Ambos, Maviael e Sertanília, fizeram desta uma noite alegre, cheia de público jovem, que mostrou o quanto atual e contemporâneo também é o sertão.

Fonte: SECULT