O cangaço foi tema de um debate
concorrido e caloroso, com questões sobre as intenções, táticas e estratégias
dos cangaceiros. Na última segunda-feira (7), dia de abertura do I Encontro de
Estudos das Culturas dos Sertões, evento integrante da Celebração das Culturas
dos Sertões, em Feira de Santana, a sessão de convidados teve como tema “Fatos
e Casos do Cangaço”. “Ainda há muita pesquisa a ser feita sobre a história e
culturas dos sertões, momentos de discussões como essa provam isto”, disse um
dos coordenadores do Encontro, o historiador e pesquisador da Universidade do
Estado da Bahia (Uneb), Roberto Dantas, que destacou ainda a qualidade dos
trabalhos apresentados e a paixão com que os temas foram debatidos.
A mesa de abertura do Encontro foi
composta pelos pesquisadores Bráulio Tavares e Alexei Bueno e contou com a
participação do secretário de Cultura do Estado da Bahia, Albino Rubim. Juntos,
eles deram início ao primeiro encontro reunindo pesquisadores e estudantes com
temática específica sobre o sertão, que acontece até amanhã, terça-feira,
dividido entre sessão de convidados e sessão de comunicações, esta, coordenada
por Alberto Freire, que recebeu 42 trabalhos, dentro os quais 15 foram
selecionados.
Ainda nesse dia aconteceram a
Oficina de Xilogravura, ministrada por José Luis Natividade, a reapresentação
do espetáculo teatral “Eh Boi”, a exibição do longa “O Dragão da Maldade Contra
o Santo Guerreiro”, de Glauber Rocha, e o espetáculo de fantoches “Universo
Sertanejo”.
Neta de Lampião
Vera Ferreira, pesquisadora e neta
de Lampião e Maria Bonita, uma das convidadas do evento, apontou a dificuldade
de pesquisar o cangaço por causa da inconfiabilidade com as fontes. “Eu tenho
jornais de cinco estados diferentes, na mesma data, relatando que meu avô se
encontrava lá. Essas desinformações acabam sendo armadilhas para os
pesquisadores. Eu não quero mudar a história de Lampião, o que quero é que ela
seja contada com seriedade”, disse Vera.
Para a pesquisadora Luitgarde
Barros, o cangaço serviu a classe dominante do país. “A ciência, a arte e a
história são criações ideológicas. Com o cangaço não foi diferente. O cangaço
foi o neoliberalismo possível da sociedade agrária brasileira da época”, disse
a pesquisadora. A mesa cedeu espaço ao público, que questionou os pontos de
vista e participou ativamente do debate.
Sertão musical e contemporâneo
A noite deste segundo dia de evento
foi dedicada à música. Mas não à música tradicional. Os artistas e grupos que
se apresentaram no Centro de Cultura Amélio Amorim misturaram referências,
cordel com pop, rock com ciranda, maracatu com clássico, juntando acordeons com
violoncelo, viola com alfaia em belíssimas performances.
Maviael Melo abriu a noite com uma
apresentação recheada de poesia e causos do sertão, com referências ao cordel,
mostrando as canções que já lhe renderam premiações em festivais. Já o grupo
Sertanília, que praticamente lotou o cine-teatro, fez um espetáculo empolgante,
com uma música essencialmente brasileira, baseada na mistura, com canções que
trouxeram como referência obras como “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães
Rosas. Ambos, Maviael e Sertanília, fizeram desta uma noite alegre, cheia de
público jovem, que mostrou o quanto atual e contemporâneo também é o sertão.
Fonte: SECULT