sexta-feira, 30 de janeiro de 2009


Tentar, experimentar. Estes são os princípios do ensaio. Com ele e por meio dele vão surgindo as cenas e o espetáculo. Entre possibilidades e experimentações, o ator vai descobrindo que pode avançar, que pode sempre ir um pouco mais. O teatro, segundo Peter Brook, talvez seja uma das artes mais difíceis porque requer três conexões que devem coexistir em perfeita harmonia: os vínculos do ator com sua vida interior, com seus colegas e com o público. É, através do ensaio e consequentemente nas apresentações do espetáculo, que o ator vai fortalecendo estes vínculos e permitindo uma atuação mais orgânica, mais visceral.

Nesse sentido – e Renato Ferracini foi feliz ao afirmar isso no seu trabalho sobre o grupo Lume de Campinas – o ator em Estado Cênico é um ser múltiplo por natureza e toda e qualquer reflexão do trabalho de ator, mesmo que se possa definir de maneira clara o recorte de discussão, jamais poderá ignorar completamente as relações multidimensionais e multifacetadas de seu trabalho.

O gaúcho Daniel Freitas acredita que para um ator dominar seu corpo e a técnica de atuação seja ela qual for significa saber o que ocorre com seu corpo, a teoria que envolve ele e saber se expressar verbalmente sobre seu estudo teatral pessoal.É comum os estudiosos de teatro identificarem outra dimensão – que não a orgânica. Trata-se da “técnica”. Ou seja, a faculdade operativa do ator em articular sua arte de maneira concreta. Uma vez dominada essa habilidade o ator a partir de sua criação estaria pronto para animar esta “técnica” dando-lhe “vida” e organicidade. Talvez criando aí um dualismo no trabalho do ator entre Forma e Vida.

A busca de uma criação orgânica, em que o ator esteja inteiro e integrado na ação cênica e a dimensão estética e ética, trouxe para o teatro a recuperação do seu verdadeiro sentido: "viva a arte em você e não você na arte". Este conceito tornado prática nas experiências do teatro foi proposto pela primeira vez pelo mestre Stanislavski. Ela vem trazer uma nova dimensão a esta arte: a união do homem e do artista, a dedicação, a generosidade, a disciplina, a sensibilidade, a formação constante do ser inteiro do ator, o jogo dialético da interioridade e da exterioridade.Num primeiro momento, Stanislavski busca abrir o caminho das potencialidades criativas de seus atores. Potencialidades profundamente ocultas, que serão descobertas durante o processo de trabalho, através de atividades que preparem o ator para o trabalho criativo. Ele vai buscar no inconsciente a fonte para esse processo. "Não me falem de sentimentos, não podemos fixar sentimentos, só podemos fixar as ações físicas".

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

OS ENSAIOS DE CANGAÇO


O bando do mais temido dos cangaceiros do nordeste da década de 30 está de volta. Eles prometem entrar na cidade cantando com seus chapelões em forma de meia lua, ricamente ornamentados com moedas de ouro e prata e roupas de couro. Talvez eles cheguem a pé, quiçá a cavalo, mas a missão primeira é encontrar o miserável delator que quase matou o capitão. Eles esperam receber dinheiro, comida e apoio. Se a população negar, a cantiga vai ceder lugar à marcha fúnebre.

Entre os bandidos estão Ciro Nonato, Ed Paixão, Roma Góes, Bruno Martinelli, Kaique Cavalcante, Val Kakau e Andréa Bandeira (E isso é lá nome de cangaceiro?) Claro que não! Trata-se do nome de batismo dos atores e atriz que representarão respectivamente: Azulão, Ezequiel, Pai Velho, Zabelê, Jararaca, Lampião e Maria Bonita.
A Secretaria Estadual de Cultura, através da Fundação Cultural do Estado da Bahia, por meio do Edital do Prêmio de Estímulo à montagem de Teatro do Estado da Bahia já disse que o terreno, as vestes e toda a infra-estrutura fica por conta dela.
Por trás da chegada do bando está o coiteiro Pawlo Cidade, com seu assistente a tiracolo e cheio de medo dos tiros, Paulo Costa; outros parceiros cuidarão da chegada, para deixar tudo como o capitão ordenou. São eles: Viviane Siqueira, Justino Vianna, Letto Nicolau e Du Moura. Respectivamente, produtora, cenógrafo e figurinista, compositor e iluminador. O povo já começou a marcar no calendário a data da chegada: 14 de março. Local: Teatro Municipal de Ilhéus.

É fato que Virgulino escreveu com sangue a sua história de líder do cangaço no Nordeste. É fato também que todas as lendas tornam-se maiores que os fatos. Entretanto, não há como negar que Lampião foi o bandido mais admirado do Brasil, considerado por vezes, um nobre salteador. Sua saga pelo nordeste brasileiro contém todos os elementos de aventura, romance, violência, amor e ódio das grandes histórias da humanidade. Ela gerou telenovelas, livros, filmes e peças de teatro. Em Ilhéus, o Grupo Teatro Total traz “Cangaço”, espetáculo que retrata os últimos momentos de Lampião no sertão. A peça revela o lado espiritual, desmistifica algumas lendas e revela a origem de sua alcunha que se imortalizou. É uma biografia singular, acompanhado dos principais companheiros e de sua inseparável Maria Bonita.


Ambientando em seu habitat natural, “Cangaço” percorre o solo ralo e pedregoso da caatinga, com sua fisionomia de deserto, plantas com folhas transformadas em espinhos, cutículas altamente impermeáveis, caules aparentemente suculentos, raízes bem desenvolvidas, esqueletos de animais mortos, cactos sombrios, enaltecidos pela presença marcante da luz cênica.
Resta-nos agora, aguardar e conferir.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009